NIETZSCHE - Burgueses Supérfluos!

O escravo é mais nobre do que seus senhores modernos - a burguesia. É um sinal de inferioridade da cultura do século XIX o fato de o homem de dinheiro ser objeto de tanta adoração e inveja. Mas esses homens de negócio também são escravos, fantoches da rotina, vítimas de uma atividade alucinada; não tem tempo para novas idéias; pensar é tabu para eles, e os prazeres do intelecto estão fora de seu alcance. Daí a sua incansável e perpétua procura da "felicidade", suas grandes casas que não são lares nunca, seu luxo vulgar sem gosto, suas pinacotecas de "originais", com o preço incluído, suas sensuais diversões que mais embotam a mente do que refrescam ou estimulam. "Olhe para esses supérfluos! Eles conseguem a riqueza e com isso se tornam mais nobres"; eles aceitam todas as restrições da aristocracia, sem o seu compensador acesso ao reino da mente. "Vejam como sobem, esses macacos ligeiros! Sobem uns por cima dos outros e, assim, arrastam-se par a lama e as profundezas. (...) O mau cheiro dos donos de lojas, a insinuação da ambição, o mau hálito. De nada adianta, nesses homens, possuir riqueza, porque eles não podem dar a ela a dignidade pelo uso nobre, pelo discriminador patrocínio das letras e das artes". "Só o homem de intelecto deveria ter propriedades"; outros consideram a propriedade como um fim em si mesma e a perseguem de maneira cada vez mais irresponsável - olhem para a "locura atual das nações, que desejam acima de tudo produzir o máximo possível e ser tão ricas quanto possível". O homem, afinal, torna-se uma ave de rapina: "eles vivem preparando emboscadas para os outros; conseguem as coisas uns dos outros ficando a espreita. Isto é chamado por eles de boa vizinhança (...) Procuram os ínfimos lucros com toda a sorte de porcarias". "Hoje em dia, a moralidade mercantil não passa, na realidade, de um refinamento da moralidade pirata - comprar no mercado mais barato de todos e vender no mercado mais caro de todos". E esses homens clamam pelo laissez-faire, por serem deixados em paz - justamente os homens que mais precisam de supervisão e controle. Talvez até mesmo um certo grau de socialismo, por perigoso que isto seja, se justificasse aqui: "Deveríamos tirar todos os ramos do transporte e do comércio que favoreçam o acúmulo de grandes fortunas - em especial, portanto, o mercado de capitais - das mãos de particulares ou de empresas privadas, e considerar aqueles que têm demais, tal como aqueles que nada têm, como tipos prenhes de perigo para a comunidade".
Fonte: Apanhado de algumas obras de Nietzsche. Colocarei apenas as iniciais dos livros: C.E., I, 142; H.D.H., I, 360; II,147 e 340; C.I., 100; Z.,64,305 e 355. A História da Filosofia; Will Durant; Editora Record; 3a Ed.; 2000. p. 320-321.

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